Página:Echos de Pariz (1905).pdf/20

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levard com duas rosas vermelhas ao peito, deve ser arrastada deante de um conselho de guerra. A papoila torna-se um delicto; e o rubor de uma face casta é offensa á constituição.

Quando o snr. prefeito da policia corta o seu dedo augusto com o seu canivete official, que deve fazer em presença do escandalo do seu sangue vermelho? Algemar-se a si mesmo, e a si proprio arremessar-se á palha humida das masmorras. Mas o verdadeiro culpado é o bom Deus que prodigalisa o escarlate e as suas gradações nas flôres, nas nuvens, e, se nos não mente a Biblia, até nas tunicas dos seus seraphins! Ao carcere o bom Deus!

Esta extravagancia do chefe da policia é melancolica!

Na Inglaterra reunem-se em Hyde-Park, quinze, vinte mil pessoas em meeting com toda a sorte de emblemas, estandartes e charangas, todas as côres que a Providencia fez e ainda todas as que a industria inventou; declama-se, uivam-se cantos sagrados e impios, atira-se velha hortaliça á face dos oradores, absorvem-se pipas de cerveja, e a formidavel policia ingleza, de braços cruzados, sorri com bonhomia á orgia civica. É que todas estas vociferações e todas essas côres deixam as instituições tão intactas e tão firmes como os velhos robles d’Hyde-Park; e, finda a hora do meeting, a grande massa dispersa com um socego de fim de missa. Em França um grupo de homens vae em silencio depôr, sobre uma campa, flôres de melancolia, e tudo