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Página:Echos de Pariz (1905).pdf/208

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as manifestações publicas, e que corresponde á necessidade climaterica e moral, hoje tornada instincto, de cobrirmos a nossa nudez. É uma méra questão de decencia, de respeito social, quasi de etiqueta. O chefe de Estado, quando falla á nação, tem de exibir uma decorosa virtude nos seus intentos, pelos mesmos motivos porque tem de vestir a sua farda, e trazer o seu sequito, nos grandes ceremoniaes. «Todas as minhas forças, caros concidadãos, serão votadas a alargar a prosperidade! etc., etc...» todas estas patrioticas, integras phrases devem ondular em tons claros, como os pennachos de gala. Os experientes sorriem, mas murmuram — «muito bem, muito bem!» E não tolerariam que o chefe de Estado, com honrosa sinceridade, declarasse que se preparava a fazer escandalos e prepotencias — como não permittiriam que elle n’essa ceremonia, onde viera lançar o seu programma, se apresentasse nú ou simplesmente em ceroulas. É uma questão de decoro. Esta necessidade de pudor publico, perfeitamente a comprehendo. O que sempre me pareceu incomprehensivel foi o ingenuo que arregala os olhos, sorve com delicias cada promessa do programma, como se ellas cahissem do alto do Sinai, e vae exclamando, radiante: — «Emfim, temos um governo, temos um homem que quer implantar a moralidade, garantir a ordem, promover a economia, etc., etc., etc,» E ainda comprehendo menos talvez os que se lançam sobre o programma e o analysam, o dissecam, tiram d’elle, por entre as linhas, esperanças ou receios,