Página:Echos de Pariz (1905).pdf/209

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e discutem apaixonadamente cada uma das suas palavras sacramentaes como se fossem realidades vivas.

Que poderia dizer jámais o rei da Italia a um reporter que o interroga sobre as intenções da Italia? Que poderia dizer, justos céus! senão que elle e o seu povo amam todos os seus visinhos como irmãos, e só querem, só appetecem a paz? E foi justamente o que affirmou Humberto. Nem era humanamente verosimil que elle franzisse o sobr’olho, e exhalasse, em vocabularios troantes, o seu odio á França, a sua sêde de guerra... Qualquer declaração sua, destinada a um jornal, tinha de ser inevitavelmente fraternal, pacifica, optimista. Os scepticos podem sorrir, mas têm de murmurar: «muito bem, muito bem». O rei da Italia com effeito teve a attitude que pedia a decencia. Recebendo um jornalista francez, vinha vestido, e affiançou a paz. Tão estranho seria que annunciasse a guerra, — como que apparecesse em mangas de camisa.

E todavia estas declarações previstas, obrigatorias e que não tem mais significação que a farda ou a sobrecasaca que o rei vestia, estão sendo escrutinadas, pesadas, filtradas, estudadas pelos analystas politicos, com ardor, como se contivessem no fundo das suas syllabas os segredos do Destino. Uns, d’aquem Rheno, gritam: «O rei Humberto não é sincero. Que dê provas!...» Outros, d’além Rheno, clamam: «Haverá n’estas palavras de Humberto intenções de desdenhar as allianças juradas?...» E o Times, ha tres dias, em pesadas columnas está perguntando aos olhos leaes do