Página:Echos de Pariz (1905).pdf/210

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monarchismo, se é licito duvidar da affirmação de um rei!...

A um innocente, como eu, tudo isto parece funambulesco. Oh boas almas, ainda uma vez mais, que esperaveis vós que dissesse o rei da Italia? Que póde responder o director de um banco a quem lhe pergunte se elle é pela probidade ou se tende para a trapaça e roubo aos accionistas? Que póde responder um chefe de Estado a quem lhe pergunte se elle é pela paz — ou se pende para a guerra e mortandade dos povos?


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De resto é innata no homem, esta tendencia a fazer perguntas, tão inuteis quão nescias, e a que elle sabe de antemão as respostas necessarias e coherentes. Não ha ninguem que, entrando n’uma mercearia a comprar um kilo de queijo, não tivesse já papalvamente perguntado ao mercieiro: «É bom o seu queijo?» Como se jámais, desde que ha homens e queijos, um mercieiro tivesse respondido, com asco: «Não senhor, não presta!» E se elle désse esta resposta, por espirito sublime de veracidade intransigente, então é que nós começariamos a desconfiar do lojista, como de um ser anormal, extravagante e perigoso. Um amigo meu, viajando em Inglaterra, parou n’um hotel, e depois de installado e barbeado, desceu a almoçar. O dia era de junho, elle appeteceu um vinho fresco e leve, percorreu pensativamente a lista dos vi-