Página:Echos de Pariz (1905).pdf/214

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thusiasmo, ou pelo menos na mesma disposição festiva, todos os cidadãos. Em Londres, milhares de pessoas que nunca pegaram n’um remo, nem comprehendem que honra ou proveito se tire de remar com pericia, mostram, e realmente experimentam, a mais excitada sympathia pela regata classica entre as universidades de Oxford e de Cambridge. E em Lisboa, mesmo os impios, pelo ar de festa que tomam, concorrem, no devoto 13 de junho, a festejar Santo Antonio. As almas dos homens, andando hoje tão dispersas, necessitam fundir-se, ao menos uma vez por anno, n’um sentimento commum.

Accresce que o Salão, no dia ceremonioso da sua abertura, offerece dous grandes attractivos além dos quadros e das estatuas. N’esse dia os artistas expõem, não só as suas obras, mas as suas pessoas: — e contemplar um artista, o córte da barba e a fórma do chapéo do artista, é um precioso regalo para o pariziense, como já era para o grego, que vinha da Grande-Grecia e das Ilhas a Athenas, não para escutar Platão, mas para vêr Platão. No Salão, tal que apenas lança um olhar indolente ás telas de Bonnat, segue através das salas, durante uma hora, o proprio Bonnat, repastando-se com delicias na admiração do homem cuja obra lhe foi indifferente. É que para esses, a quem o bom Flaubert chamava com tão truculento rancor «os burguezes», todo o artista é um sêr excepcional, vivendo uma vida excepcional, feita de invejaveis aventuras, de estranhas festas e de voluptuosidades magni-