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cta!) mais uma vez reconheci quanto é facil governar as Democracias. O grande obstaculo, que os theoricos de temperamento timido têm antevisto á estabilidade dos agrupamentos democraticos, é a independencia da razão individual e o seu livre exercicio, garantidos por leis, tornados mesmo alicerces primordiaes da estructura publica.

Desde que não exista uma regra, como a velha regra catholico-monarchica, que obrigue todos os espiritos a ter a mesma opinião e a regularem por ella a sua conducta, não parece possivel (affirmam esses pallidos theoricos) manter em harmonia alguns milhões de cidadãos, todos elles possuidores de uma ideia original e propria, e determinados, por interesse ou por convicção, a que só ella prevaleça.

A servidão intellectual, entendida á boa e rija maneira dos Jesuitas, apparece assim como a condição suprema de toda a harmonia social.

Mas como a Democracia, de collaboração com a philosophia, tem justamente por fim abolir esta servidão, dar uma illimitada alforria aos entendimentos, ella cria desde logo e sem remedio esse estado, previsto tão melancolicamente pelo nosso velho proverbio, em que «cada cabeça dá a sua sentença». E (concluem emfim os theoricos) como não ha melhor goso para uma cabeça humana do que conceber e impôr uma sentença, resulta que, apenas se quebra o jugo salutar da Regra, todas as cabeças se sacodem desafogadamente, atiram para o ar com impeto a sua sen-