Página:Echos de Pariz (1905).pdf/233

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trabalhava furiosamente contra essa liberdade de que pretende ser a expressão suprema e perfeita; — e a sua arma não era mais do que uma nova e ensanguentada ferramenta posta, por elle, de noite, nas mãos da burguezia capitalista.

Anarchista ou não, porém, esse rapaz mysterioso, que permanece mudo n’um carcere de Lyão, fez, senão uma d’aquellas «victimas de eleição» de que fallam os Evangelhos, uma victima que todos os homens de bem podem lamentar com magoa pura e sem mescla d’outro sentimento. Carnot foi por excellencia o magistrado integro.

Sem nenhuma das qualidades brilhantes de espirito que captivam os lados imaginativos da raça franceza, elle foi todavia popular, e, apesar dos leves sorrisos que provocava o seu feitio exageradamente empertigado, o mais popular talvez de todos os chefes d’Estado n’stes ultimos cincoenta annos em França. E a razão é que elle encarnava admiravelmente todos os outros lados do temperamento francez, os do bom senso positivo, da prudente moderação, do trabalho zeloso, da probidade e da veneração pela Lei. Todos estes traços de caracter se encontram em França, principalmente na burguezia provincial; por isso Carnot era sobretudo querido nas provincias, e se podia considerar como um presidente não pariziense, mas provinciano, o que constitue, para quem conhece Pariz, um dos seus meritos, senão o seu merito maior. De certo para a sua popularidade concorreram tres