Carnot morre com um requinte dramatico que faltou a Cesar! Vêde logo o scenario! Não é a sala grave do senado, onde os punhaes se erguem com a serenidade raciocinada de uma votação — mas a rua illuminada de uma cidade em festas, n’uma noite de gala. Todas essas flammulas, e bandeiras, e rutilantes arcos de gaz, e festões multicores de lanternas chinezas, e fogos esparsos de Bengala, e escudos de luz, e palanques, e orchestras são para celebrar o homem que passa no seu landeau, e saúda, e sorri. Uma multidão sincera, de uma boa sinceridade provinciana, para quem esse homem, com a placa e gran-cruz da Legião de Honra, cercado de couraceiros, encarna realmente a magestade da França, grita — «Viva Carnot! Viva Carnot!» E de repente a magestade da França cáe para cima das almofadas do coche, com a face descomposta, livida! Foi um qualquer, surdindo das profundidades da plebe, com os sapatos rotos, uma velha jaqueta de panno côr de mel, que, n’um relance, lhe enterrou um punhal no ventre. Punhalada quasi impessoal, em que o braço não é mais do que a prolongação inconsciente da lamina de ferro, e que vem debaixo, de longe, de muito longe, das camadas escuras do proletariado esfaimado... E o landeau lá vae, lá foge a galope, entre o ancioso tropear da escolta, levando o chefe de Estado que se escoa em sangue. O Estado, recentemente para o proteger, gastára mais um milhão de francos em reforçar a policia!
Oh! esta sinistra fuga para o palacio da prefeitura,