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do landeau da côrte tornado bruscamente carro d’hospital! Já para dentro saltára um cirurgião, que, de mangas arregaçadas, tendo desabotoado as calças do presidente, palpava a ferida, vedava o sangue com os lenços emprestados pelos lacaios. E assim galopa um quarto d’hora furiosamente, sob as bandeiras, os arcos de luxo e as grinaldas de luzes. Um mero cidadão seria logo transportado, e em braços, ao pateo d’uma casa, ao balcão d’uma botica. Mas o presidente tem de recolher ao palacio, ainda que se esvaia em sangue, porque, mesmo n’uma Republica, é severa a regra do Protocollo! Nas ruas, a multidão, que nada sabe da punhalada e vê passar entre os couraceiros o landeau d’Estado, onde vagamente se agitam e brilham plumas e dragonas de generaes, bate as palmas festivas, acclama Carnot! Mas em cima, nas janellas, a gente que as enche tem uma visão estranha, terrivel, quasi burlesca — o chefe do Estado estendido, com a gran-cruz, a placa de diamantes da Legião de Honra e o ventre nú, a fralda da camisa fluctuando, já tingida de sangue! Visão espantosa que passa entre ovações — ao clarão dos fogos de Bengala, sob o estalar dos foguetes. Passa, desapparece, n’um galope de cavalleiros, deixando apenas o sulco arrepiador d’aquella fralda branca e sangrenta!

Á porta do palacio da Prefeitura a confusão é tão grande que dous reporters, sofregos de se envolverem n’um acontecimento historico, se apoderam do corpo do presidente e o arrancam do landeau, um agarrando