gem a algum general com bacias ou pannos ensanguentados, todos, homens e senhoras, se empurravam, se esticavam para contemplar o chefe do Estado no seu leito, ainda de casaca, ainda de gran-cruz, com o ventre nú, as pernas núas...
Assim morria, n’esta desordem, o mais decoroso dos chefes de Estado.
Cesar, ao cahir, deu um grande movimento á toga para se tapar todo, n’uma suprema decencia: — e em torno d’elle não havia senão os brancos marmores do senado deserto, e ao fundo um personagem consular, muito velho, muito gordo, que adormecera, nada percebera do feito supremo e continuava resonando, com o labio pendente, emquanto esfriava o corpo gasto do vencedor das Gallias e se mudava a ordem do mundo.
Emfim o presidente está morto, lavado, vestido, com a sua casaca, as suas insignias — e apertando na mão já hirta um par novo de luvas brancas. Defunto, Carnot parece manter aquella correcção official que fôra o seu cuidado durante a vida. Para comparecer na presença de Deus, como chefe de Estado, elle tem a sua placa de diamantes, a sua gran-cruz, e na mão as suas luvas novas. Estas luvas d’além da campa, muita gente as acha estranhas! Ellas são todavia do velho ceremonial funerario de França. Os reis de França eram enterrados com luvas. O grande cavalleiro Roldão, ao morrer em Roncesvalles, tira, no derradeiro arranco, o seu guante de escamas de ferro e entrega-o ao archanjo S. Miguel, que ao lado esperava para con-