Página:Echos de Pariz (1905).pdf/246

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duzir ao Senhor o alto paladino da christandade. Era da etiqueta feudal, nos tempos Carlovingios, que o vassallo, ao penetrar no solar do seu suzerano, despisse o guante da mão direita e o abandonasse a um pagem.

Roldão não esquece este acto de vassalagem. Ao transpor as portas do céu, que é o solar de Deus, suzerano absoluto, elle tira o guante e gravemente o entrega ao archanjo, como a um pagem celeste.

Todos sabem, porque bons livros o contam, como Deus acolheu o cavalleiro perfeito e lhe chamou, sorrindo, seu filho. Assim, através das edades, a tradição liga Carnot a Roldão.

Considerae tambem como é dramatico o modo escondido e calado com que regressou a Pariz o corpo de Carnot. Na gare não havia uma auctoridade, um ministro, ninguem do grande pessoal do Estado, quando o comboio que trazia o cadaver, appareceu, sem um signal, sem um apito, sem um rumor, deslisando funebre e mudamente, como um fantasma de comboio, vago e coberto de crepes. D’uma portinhola sahiu, no mesmo silencio, Mme Carnot, vestida como na vespera, quando correra a Lyon, com um chapéo enfeitado de flôres vermelhas. Mettem o caixão á pressa n’um carro sem solemnidade civil e religiosa; e á pressa, n’um trote fugidio, através das ruas mais desertas, onde clareava a madrugada, levam-n’o para o Elyseu. O morto como que é recolhido ás occultas ao seu palacio, para se installar methodicamente na sua