Página:Echos de Pariz (1905).pdf/248

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os corceis ricamente ajaezados, as insignias symbolicas, os trophéos, os andores, os estandartes, os carros de deslumbrante architectura, a riqueza patricia, as criadagens agaloadas, e o incomparavel fausto da Egreja com os seus baculos, as suas mitras, as suas purpuras, as suas casulas de ouro — toda essa magnificencia esthetica aqui falta. Um pobre carpinteiro de Florença ou Roma, da Florença dos Medicis ou da Roma de Leão X, nunca acreditaria, contemplando esta procissão funeral, que uma opulenta e artistica nação estava fazendo a apotheose do seu chefe assassinado. Todavia a França, dentro das restricções impostas pela sobriedade do seu gosto e pela simplicidade da sua democracia, prestou a Carnot, largamente, todas as homenagens e preitos symbolicos. As flores que lhe offertou, foram incontaveis, custaram mais de tres milhões de francos, e durante todo um dia perfumaram o vasto ar de Pariz. E toda a França organisada, desde os corpos d’estado até aos clubs gymnasticos, acompanhou o seu feretro ao Pantheon, que a patria reconhecida reserva aos Grandes Homens.

Mas essas flôres uniformemente arranjadas em corôas, e accumuladas sobre carros, ou conduzidas isoladamente em andores, algumas enormes, de dous metros de diametro, e semelhando bolas pintadas de côres vistosas, não podiam formar, na sua uniformidade dogmatica, um quadro de belleza: só impressionavam pela abundancia, pela ideia mercantil dos milhões gastos, e em breve murchos.