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E a França toda atraz, era apenas uma infinita e cerrada fila de casacas pretas. Interminavelmente passavam na irradiação do sol de julho as casacas negras. Aqui, além, por vezes, um grupo de embaixadores, as fardas d’um estado-maior, os juizes com as suas bécas escarlates destacavam, n’uma mancha fugitiva de brilho e côr. Mas logo se prolongavam, se eternisavam as calças pretas, as casacas pretas, marchando em cadencia. Nos olhos pesados, no espirito meio entorpecido, não restava por fim senão á impressão dormente d’um mudo e lutuoso perpassar de fato preto.

E aos olhos cançados, ao espirito adormentado, voltava, para embotar mais a emoção artistica d’esta pompa, a memoria de outras pompas, a de Thiers, a de Gambetta, a de Victor Hugo, em que tambem assim marchavam, em longas milhas, calças pretas, casacas pretas.

Uma novidade, porém, e singular, impressionava n’estes funeraes de Carnot: — e era que, atraz do feretro, coberto com a bandeira tricolor, se entreviam n’um carro batinas e sobrepellizes de padres. Depois, á frente dos embaixadores, marchava o nuncio do papa, nas suas grandes vestes rôxas. E por todo o prestito, mesmo misturadas aos uniformes, appareciam, aqui, além, sotainas de padres. Novidade consideravel! E então se attentava mais em que esta tragedia do presidente assassinado fôra realmente, toda ella, em todos os seus actos, seguida e ministrada pela Egreja. Carnot moribundo recebeu os santos oleos das mãos do arcebispo de Lyon.