Página:Echos de Pariz (1905).pdf/34

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sua sarça ardente. Eu não o ouvi. O seu discurso, lido aqui no jornal, affigura-se-me uma prosa resoante e oca como um tambor, mais propria da emphase castelhana que da lingua lúcida e disciplinada em que Voltaire escreveu. Parece, porém, que a sua formidavel figura, os accentos pungentes da sua voz captivante, soltando os grandes nomes de França e Patria e Republica, os seus gestos de apostolo possuido do espirito; a maioria de pé, n’uma acclamação, como nos dias patheticos da Convenção; a direita muda e aterrada, as galerias n’um extasi vibrante — tudo isto formou um quadro grandioso, quasi heroico.

Eu espero, para o admirar, que um mestre o immortalise na téla e o popularise pela lythographia. Até lá, por Jupiter, sustento que esta arenga não me parece do meu Gambetta, do antigo e forte Gambetta; dir-se-ia antes ser do copioso Odilon Barrot. Não vejo aqui as ideias que fundam, nem as palavras que ficam. O que abunda, sim, é o emprego triumphante do pronome pessoal eu.

«Eu consultei o paiz! Eu disse á Europa! Eu quero! » E assim se desfaz, emfim, o equivoco enorme; é elle realmente que governa, possue a França: o snr. Grevy está alli como uma figura ornamental; o snr. de Freycinet e o seu ministerio são o côro explicativo; a camara, um mero serviço de votação. Só elle fica acima d’estas fracções, como a mesma alma da Republica. E pela segunda vez, desde Mazzarino, com respeito o digo, um italiano é o senhor das Gallias.