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de idéas ou de emoções — porque para comprehender todas as ideias ou sentir todas as emoções basta exercer o pensamento ou exercer o sentimento, e todos nós, mortaes, podemos, sem que nenhum obstaculo nos coarcte, mover-nos liberrimamente nos illimitados campos do raciocinio ou da sensibilidade. Eu posso ser um perfeito dillettante de ideias, modestamente fechado, com os meus livros, na minha bibliotheca: — mas se tentasse ser um dillettante da Acção, nas suas expressões mais altas, commandar um exercito, reformar uma sociedade, edificar cidades, teria de possuir, não uma livraria, mas um imperio submisso. Guilherme II possue esse imperio; e hoje que se libertou da dura superintendencia do velho Bismarck, póde abandonar-se ao seu insaciavel dilettantismo da Acção, com a licença «com que o corsel novo (como diz a Biblia), galopa no deserto mudo». Quer elle o goso de commandar vastas massas de soldados, ou de sulcar os mares n’uma frota de ferro? Tem só de lançar um telegramma, fazer resoar um clarim. Quer elle a delicia de transformar, nas suas mãos potentes, todo um organismo social? Tem só de annunciar: «Esta é a minha idéa» — e lentamente a seus pés começará a surgir um mundo novo.

Tudo póde, porque governa dous milhões de soldados, e um povo que só zela a sua liberdade nos dominios da philosophia, da éthica ou da exegese, e que quando o seu imperador lhe ordena que marche — emmudece e marcha.