Página:Echos de Pariz (1905).pdf/55

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mentos ensinando nas universidades que a summa da sapiencia politica na Prussia era — Deus salve o Rei? Onde estão esses louvores ao direito divino dos Hohenzollerns, cantados por Strauss, por Mommsen, por Von Sypel? Tudo passou! A metaphysica rosna descontente. Das duas grossas pedras angulares da monarchia prussiana, o philosopho e o soldado, Guilherme II hoje só tem o soldado: — e o throno, sobrecarregado com o imperador e o seu Deus, pende todo para um lado, que é talvez o do abysmo...

Conseguirá o philosopho persuadir o soldado a sacudir, por seu turno, o peso sob que geme, é mesmo sob que sangra, se são veridicas as accusações do principe Jorge de Saxe? O soldado sáe do povo, e sabe lêr. E se, como a Allemanha toda affirmou, foi o mestre-escola quem venceu em Sadowa e em Sedan — é talvez elle ainda, com o seu novo livro e a sua nova ferula, que vencerá em Berlim.

O snr. Renan tem, pois, razão, grandemente: e, nada mais attractivo, n’este momento do seculo, do que assistir á solução final de Guilherme II. Dentro em annos, com effeito (que Deus faça bem lentos e bem longos) este moço ardente, imaginativo, sympathico, de coração sincero, e talvez heroico, póde bem estar, com tranquilla magestade, no seu Schloss de Berlim gerindo os destinos da Europa, ou póde estar, melancolicamente, no Hotel Metropole em Londres, desempacotando da maleta do exilio a dupla corôa amolgada da Allemanha e da Prussia.