Página:Echos de Pariz (1905).pdf/64

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fazer visitas, ir ao theatro, etc., de chapéo de palha, jaquetão claro e botas brancas. Nada mais justo. Era com effeito absurdo que Pariz nos servisse 30 graus á sombra — e que os parizienses continuassem a soffrer a tyrannia da sobrecasaca apertada e do duro chapéo alto. A moda, mesmo, deveria ir mais longe e permittir a tanga. O vestuario foi inventado por causa da temperatura, e deve, portanto, variar com ella harmonicamente. A neve pede pelles, pelles supplementares, arrancadas a animaes. O sol do Senegal ou de Pariz em julho, só pede a propria pelle — sem mais nada, além de uma folha de vinha. Esta seria a logica das cousas. A moda não ousou ser tão radical — e foi só até á palha e á alpaca.

Mas é um primeiro passo no bom senso. Para o anno, talvez nos seja permittido o ir á Opera, como deveriamos, em mangas de camisa. Ahi no Rio, segundo me affirmam, mesmo no verão, se anda de sobrecasaca de panno. É um lamentavel excesso de decoro social. Ainda se comprehendia no tempo do imperio, quando a constante sobrecasaca preta do imperador dominava nas instituições, e portanto determinava os costumes. Hoje a republica devia apagar esse verdadeiro vestigio do velho regimen, e derrubar a tyrannia do panno e do chapéo alto. Estou convencido mesmo que essa grande reforma influiria vantajosamente no estado dos espiritos. Um povo que, com 40 graus de calor, anda entalado em casimiras sombrias e sobrecarregado com um chapéo alto de cere