Foi por isso com certa alegria maliciosa que eu li nas gazetas que o snr. Buloz e, com elle, a pudibunda Revista dos Dous Mundos se achavam envolvidos n’um escandalo de amores e de intrigas. O quê! Ella, a Revista, que com tão austera altivez denunciara durante tantos annos Zola á execração publica, eil-a agora atolada, e até ao pescoço, n’uma aventura escabrosa! Como assim? Buloz, o proprio Buloz, que fazia uma tão severa policia dentro da sua Revista, que esquadrinhava todos os romances com terror de que lá estalasse n’algum canto algum beijo mais voraz, que perseguia rancorosamente, com a ferula da honestidade, e em nome do «pudor domestico», toda a litteratura de observação, sincera e livre, eil-o agora por terra, enrodilhado em saias ligeiras e illegitimas!! Como assim? E tudo isto, pelo contraste eterno entre o que frei Thomaz prega e o que frei Thomaz faz, me parecia divertido.
Depois, mais informado, lamentei sinceramente o excellente Buloz e a excellente Revista. Porque não havia aqui realmente um romance d’esses que o proprio Buloz condemnava sombriamente como «infectos» — mas um roubo, um longo e abjecto roubo, organisado contra Buloz, e portanto contra a Revista de que elle é a encarnação viva — por dous d’esses horriveis personagens a que Balzac chamava impropriamente os tubarões de Pariz. Tubarões, sim, no sentido de nadarem anciosamente no oceano pariziense á cata da