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Página:Emília, a cidadã-modelo soviética.pdf/10

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35.1
2019
Marina Fonseca Darmaros, John Milton

e era usada como texto-fonte para outras traduções do bloco soviético (Pokorn 2012:125).

5. As traduções de Lobato para o russo

Ao que tudo indica, os primeiros livros de Monteiro Lobato traduzidos para o russo a serem publicados na URSS foram “Histórias de Tia Nastácia”, em 1958, e “Sítio do Picapau Amarelo”, em 1961. Como acontece com frequência na tradição russo-soviética, estas traduções permanecem intocadas e as publicações posteriores dos mesmos títulos mantêm o conteúdo produzido no final da década de 1950 e início da de 1960. Há indícios, porém, de pelo menos uma tradução de texto não infantil de Monteiro Lobato muito anterior a essas no Arquivo Estatal Russo de Literatura e Artes, segundo documentos inéditos relacionados à tradutora do inglês e do francês Natália Pliguina-Kamiônskaia (1901-1997) que encontramos no Arquivo Estatal Russo de Literatura e Arte (na sigla em russo, RGALI). Assim, em contrato (RGALI, fundo 611 op 2 ex 167 folha 4) assinado por Kamiônskaia com a Gosizdat (Editora Estatal da República Socialista Federativa Soviética da Rússia), ainda em 1927, ela concede à editora os direitos exclusivos sobre sua tradução de “Sovremenni mutchenik” – em retradução para o português, “Mártir moderno”. O documento ainda exige a apresentação da tradução completa e datilografada em 1 de outubro de 1927, e fala em dissolução do contrato em caso de não publicação dois anos após a entrega do material; define o pagamento da tradução completa em 80 rublos e estabelece a tiragem do material em 30.000 exemplares. Há a possibilidade de que o documento se refira, pela data e conteúdo, à tradução de “Um suplício moderno”, conto que integra o livro Urupês, de 1918, e apresenta um estafeta, espécie de carteiro, que é burro de carga e submisso a todos e tenta se vingar do chefe após tentar, sem sucesso, pedir demissão. Porém, o contrato também fala em duas “folhas de impressão”[1], ou seja, cerca de 80.000 caracteres, e o conto “Um suplício moderno tem apenas pouco mais de 20.000. Três outros documentos por nós localizados no RGALI, datados de 2, 6 e 8 de outubro de 1929 (fundo 611 op 2 ex 167 folhas 7-9), indicam

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  1. “Petchátni list”, em tradução literal, “folha de impressão”. Cada uma, com valor espe-cifi cado no contrato como o equivalente a 40.000 caracteres.