2019
uma criança em determinado contexto histórico e social e fornece a compreensão de atitudes e normas predominantes em uma sociedade”. Citando Zohar Shavit, que aplicava a teoria de polissistemas à literatura infanto-juvenil, Inggs afi rma que um texto deve ser adaptado ou tra-duzido “de acordo com o que a sociedade considera (em determinado momento) como educacionalmente ‘bom para a criança’; e com um ajuste na trama, na caracterização de personagens e na linguagem para prevalecerem as percepções sociais da habilidade da criança de ler e compreender” [“in accordance with what society regards (at a certain point in time) as educationally ‘good for the child’; and an adjustment of plot, characterization, and language to prevailing society’s perceptions of the child’s ability to read and comprehend”].(Shavit 1986:113 apud Inggs 2015:3).
Na obra de Lobato, há a visão de um mundo leigo no qual não existe contato com qualquer Igreja. É um mundo no qual as crianças são encorajadas a ser independentes, a explorar e a ter contato com o fantástico. São guiadas por Dona Benta, mulher que tem muitas caraterísticas de uma professora universitária aposentada, talvez da História ou das Ciências Sociais, e que encoraja as crianças e bone-cos a desenvolver um sentido crítico acerca da história do Brasil, da América Latina e do mundo. Dona Benta insere aulas de vocabulário nas contações de histórias, encoraja as crianças a ler Darwin e chama o Sítio a “Universidade do Pica-pau Amarelo” (Lobato 1968:17). E, especialmente nos anos de 1930, com a publicação de diversos livros didáticos - como Ferro (1931), História do Mundo para as Crian-ças (1933), Emília no País da Gramática (1934), Aritmética da Emí-lia (1935), Geografi a de Dona Benta (1935), História das Invenções (1935), O Escândalo do Petróleo (1936) e O Poço do Visconde (1937) -, “encontramos uma escola alternativa, onde Dona Benta desempenha o papel de professora (…) [e] o sítio se transforma numa grande escola, onde os leitores aprendem desde gramática e aritmética até geologia” (Lajolo 2000:61).
Para Zohar Shavit, um tradutor pode, sim, manipular o texto-fonte infantil em relação à tradução, desde que siga dois princípios básicos: primeiro, que o livro seja didático, “bom” para a criança; e segundo, que a trama, a linguagem e a caracterização sejam ajustadas à habilidade de leitura da criança (Shavit 1986:112-128 apud Puurtinen