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O dono da casa costumava ir à cidade três vezes na semana, para tratar de seus negócios, ou talvez para não se isolar totalmente do mundo de que já vivia tão apartado. Também saia de passeio, a pé ou a cavalo pelos arrabaldes.

Certas ocasiões mostrava-se afável, polido, atencioso e expansivo, retribuindo os cumprimentos que recebia, e dirigindo-os as pessoas de seu conhecimento. Era então um modelo do homem de boa sociedade e fina educação.

Outros dias estava de tal modo concentrado que passava pelas ruas como um incógnito; não falava a ninguém; não fazia caso das pessoas de maior consideração e a quem acatava. Se algum amigo vinha-lhe ao encontro, recebia-o sem parar com a mascara muda e impassível da abstração, e logo o despachava com um aperto de mão automático.

Estas alternativas sucediam-se por fases; duravam semanas e meses. A fisionomia denunciava logo a conjunção desse espírito com o mundo. Havia nele, como em todos nós, dois homens, o íntimo e o social; a diferença é que nele as duas faces revezavam-se, enquanto que nos outros elas de ordinário são fixas e formam o direito e o avesso do indivíduo.

Ainda mesmo nos seus dias de misantropia o