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para o almoço. Carlos tomou o seu lugar do costume; eu sentei-me defronte e notei logo que havia um talher em frente à cadeira de honra, outrora ocupada pela dona da casa. Tínhamos pois uma terceira pessoa; talvez alguma velha parenta de Carlos.

-- E por que não seria alguma prima moça e bonita, que viesse tentar aquele modelo de constância? Aposto que adivinhei.

-- Não adivinhamos, nem a senhora, nem eu. O Abreu serviu-nos, e eu a convite do dono da casa almocei com apetite de viajante. Uma coisa me causou reparo. Quando Carlos incumbia-se de trinchar, depois de fazer o prato para mim, fazia outro que passava ao Abreu. Este em vez de advertir o amo da sua distração colocava o prato na cabeceira, sobre o terceiro talher intacto, e o meu amigo tirava para si nova porção; depois o criado mudava todos os três talheres.

-- Ah! percebo. Um eclipse matinal da estrela.

-- Ao jantar reproduziram-se todas estas circunstâncias que referi. A cadeira continuou vazia, sem a menor observação do dono da casa, e o talher de estado foi ainda servido duas ou três vezes. Cresceu, porém, a minha surpresa, quando na ocasião de tomarmos café, Carlos, continuando a conversa, proferiu