Página:Eneida Brazileira.djvu/162

Wikisource, a biblioteca livre

Que lidas juvenis tentar ousava.
Com ância cada qual seu flexil arco
Forte encurva, e da aljava o tiro aprompta.
Primeiro o Hyrtacio, o nervo rechinando,
525Zimbra agilissimo as voluveis auras,
E no fronteiro mastro a ponta ferra:
Treme a arvore, assustada esvoaça a pomba,
E em roda estronda o applauso. Ardego e lesto,
Arma o lanço Mnestheu, põe alto a mira,
530Olhos estende e a setta: ah! que não poude
Na ave tocar; do pé só quebra os fios
De que innexa pendia: ella adejando
Por entre nôtos e negrumes foge.
Mas, prestes e embebida a frecha tendo,
535Invocando Eurycion fraterno auxílio,
Fita a que o céo fendendo alêa e exulta,
E sob a nuvem bruna a encrava: a pomba
Cahe morrendo, e nos astros larga a vida,
E traz cahindo a farpa atravessada.
540Resta Acestes sem palma; e o tiro aos ventos,
De arco sonoro e de arte gloriando,
Emfim remette. Aqui subito occorre
Monstro e agouro espantoso, que o futuro
Vindo acclarar, terríficos os vates
545Tarde o cantaram; pois que ardeu, voando,
E igneo sulco traçou na etherea via
A haste arundinea, e em ar se esvaiu tenue:
Qual se descrava a estrella, o céo transcorre[1],
E no vôo inflammada arrasta o crino.
550Phrygio ou Trinacrio, estaticos de assombro,
Levantam preces: nem repulsa o aviso,
Mas a Acestes abraça o heroe prestante,
Largo o premeia, e ajunta: «Acceita, ó padre,
Senão da sorte, por insigne auspicio
555Do summo rei do Olympo, esta esculpida

  1. No original trancorre.