Página:Eneida Brazileira.djvu/171

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No mesmo ânimo estou; bane os temores.
Aportará no Averno quem desejas:
Deve um só perecer no aquoso fundo;
Uma cabeça pagará por todos.»
840Tendo assim amimado a leda Venus,
Junge os brutos, e impondo espumeos freios,
Elle a brida relaxa, e á tona equorea
Voa de leve no ceruleo carro:
Cahe sob o eixo tonante o inchado argento,
845Amansa a vaga, espalham-se os negrumes.
Surde a marinha escolta: Glauco e Phorco,
Seu velho coro, formidaveis cetos,
Tritões ligeiros, Melicerta Inôo;
Thetis á esquerda, Pânope e Niséa,
850Melite e Spio, Cymódoce e Thalia.
Brandos gostos revesam-se de Enéas
Na mente absorta: erguer faz logo os mastros,
Desenvergar o panno e desfraldal-o.
Toda a frota n’um ponto escotas ala;
855Solta a bombórdo os seios, a estribórdo;
Arduos os lais braceia, rebraceia;
Té que o sôpro á feição lhe enfuna as vélas.
Palinuro abre o rumo á densa armada;
De lhe irem na conserva os mais tem ordem.
860Da celeste baliza ao meio a noite
Já rorida attingia; de cansaço
Por duros bancos a maruja os membros
Em seus remos pousava: he quando o Somno
Do ether sidereo placido escorrega,
865Afugenta e dissolve a espessa treva;
Busca-te, Palinuro, a ti mesquinho
Funestos sonhos traz: na pôpa, em Phorbas
Transformado, se assenta, e arteiro falla:
«Iaside Palinuro, ao som das aguas
870Deslisa a frota; a viração he certa;