Página:Eneida Brazileira.djvu/184

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Com pena, o mestre solve, e em taes desvaires
Cegos vestigios por um fio rege.
Não fôsse, Icaro, a dôr, nessa obra prima
Teu caso entrara: foi graval-o em ouro,
35Duas vezes fallece a mão paterna.
Mais perlustraram tudo, se expedido
Não regressasse Achates com Deiphobe
De Glauco, a Phebe e Apollo consagrada;
Que se endereça ao rei: «Não mais, Enéas,
40De espectaculos basta; ora te cumpre
De intacta grei matar novilhos sete,
Sete ovelhas do rito.» E ao santuario,
Aviado o sacrificio, os Teucros chama.
Rasgou-se antro espaçoso em roca eubéa,
45Com cem bôcas, cem largas avenidas,
Donde oraculos cem troa a Sibylla.
Já no limen a virgem: «Toca os fados
A interrogar; o deus, eis o deus» clama.
Subito, ás portas, o semblante muda,
50A voz não uma, não composta a coma;
Rabido incha-lhe o peito, arqueja e offega;
Maior parece, em tom mortal não soa,
Quando a bafeja de mais perto o nume:
«Tu cessas, Phrygio, de orações e votos?
55Cessas? pois de outro modo a casa attonita
Não se escancara.» Dice, e emmudeceu.
Aos Teucros frio horror nos ossos coa,
E orou do íntimo o rei: «[1]Phebo, a quem sempre
D’Ilio o mal consternou, que a troica frecha
60De Páris dirigiste contra Achilles,
Tu guia, o pelago arrostei que abrange
Terras taes, e os Massylos tam remotos,
E o dilatado chão que as Syrtes orlam:
Já que aportámos na arredia Italia,
65De Pérgamo a desgraça aqui termine.

  1. No original, não há aspas nesse lugar.