Página:Eneida Brazileira.djvu/186

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Te abre graia cidade, o que nem pensas.»
Do adyto canta ambages taes medonhos,
Muge na gruta, o vero embrulha em trevas:
Á furibunda os freios bate Apollo,
105N’alma excitada estimulos vertendo.
Muda a Sibylla, mais quieta a sanha,
Começa o teucro heroe: «Nenhum trabalho,
Por novo e inopinado, estranho ó virgem:
Um por um antevi, ponderei todos.
110Pois que he do inferno a entrada e aqui, me affirmam,
Do revêsso Acheronte o lago obscuro,
Ir, só te imploro, ao caro pae me caiba:
Mostra-me e patentêa as sacras portas.
Eu, nestes hombros, d’entre a chamma e infindas
115Chuças hostis o arrebatei, salvei-o;
Elle infermo comigo affrontou mares,
O pélago aturava e o céo minazes,
Com mais vigor do que á velhice he dado.
Requerendo ordenou-m’o, e humilde que hajas
120Dó do filho e do pae deprecar venho:
Tudo se te faculta; Hecate em balde
Não te prepoz, ó casta, ao luco averno.
Se Orpheu poude avocar da espôsa os manes,
Em thracia accorde cithara fiado;
125Se, com alterna morte o irmão remindo,
Pollux tanto essa via anda e desanda,
(Porque a Theseu citar e o grande Alcides?)
Eu provenho tambem do rei supremo.»
Dest’arte orava, ás aras apoiado;
130E ella accrescenta: «Anchisea e diva estirpe,
Descer a Dite he facil; dia e noite
Seus cancellos o Tartaro franquêa:
Tornar atrás e á luz, eis todo o ponto,
Eis todo o afã. Do recto Jove amados,
135Ou por virtude ardente ao céo subidos,