Página:Eneida Brazileira.djvu/195

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De ira as entranhas tumidas se applacam;
Nem mais tugiu. Da haste fatal mirando
O veneravel dom, não visto ha muito,
Vólta a cerulea pôpa e á riba encosta.
420Abancadas ao longo afasta as almas,
Faz praça, e a bórdo o capitão recebe.
Ao pêso a barca nas costuras geme,
Rimosa da lagoa aos sorvos bebe;
Alêm depõe a salvo a guia e o Phrygio,
425Em morraçal verdoso e limo informe.
Com trifauce latir Cerbero ingente,
Deitado em cóva opposta, o reino atroa.
Seus serpentinos collos já se erriçam;
Lança-lhe a vate um somnorento bolo
430De mel e confeições, que, as tres gargantas
Escachando glotão, raivoso engole;
E, os costados em terra, entorpecido,
Por toda a gruta o corpo enorme estira.
Sopito o monstro, a entrada occupa Enéas,
435E lesto evade a irremeavel onda.
Logo se ouve ao limiar vagido e chôro,
Tenros ais dos que ao seio em que mamavam
Arrebatou, privou do doce alento,
Immergiu dia infausto em lucto acerbo.
440Por crime falso á morte os condemnados
Estam perto. Os lugares não se assinam
Sem sortes, sem juiz: rodando a urna,
Chama ao silente povo e inquire Minos,
E das vidas conhece e dos peccados.
445Cá vizinham suturnos os que, insontes
A luz odiando, as almas desataram,
Víctimas do suicidio. Oh! quanto agora
Prefeririam padecer no mundo
Cru trabalho e pobreza! Ha lei que o veda,
450E, em vóltas nove circumfusa a Estyge,