Página:Eneida Brazileira.djvu/201

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Surge o facho a vibrar, minaz troveja.
Quem teve odio aos irmãos, durante a vida,
Poz mãos nos paes, urdiu contra o cliente;
Os que amuados thesouros incubando,
630Maxima turba, nada aos seus partiram;
Os mortos no adulterio; os de impias armas
Sequazes, desleaes contra os senhores,
No encêrro a pena aguardam. Não a inquiras,
Nem que sentença ou caso os tem submersos:
635Qual pedra ingente galga, ou de uma roda
Estreito aos raios pende; está sentado
Preso o infeliz Theseu e estará sempre;
Phlegyas, miserrimo a bradar nas trevas,
Nunca cessa: «Aprendei no exemplo horrivel
640Justos a ser, a não zombar dos numes.»
Este vendeu a patria a ruim tyranno;
Leis, as fez e defez peitado aquelle;
Outro invadiu nefando o leito á filha:
Réos que a tenção damnada executaram.
645Nem com voz ferrea, bôcas cem, cem linguas,
Podera eu numerar da culpa as fórmas,
A variedade e os nomes dos castigos.»
Depois a idosa Amphrysia: «Anda, accrescenta,
Acaba a empresa, a rota apressuremos.
650Dos Cyclópes forjados vejo os muros,
No arco da frente as portas, onde a offerta
Depôr se nos prescreve.» Dice, e opacas
Vias a par correndo, o espaço vencem,
Tocam já nos batentes. Elle a entrada
655Occupa; e, de agua viva asperso o corpo,
No frontespicio o ramo á deusa crava.
Completo o rito e o voto, emfim chegaram
A jucundos vergeis e amenas veigas,
Da bem-aventurança alegres sitios.
660Ether mais largo purpurêa os campos,