Página:Eneida Brazileira.djvu/303

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Se a teu pezar estam na Hesperia os Troas,
Não m’os ajudes, seu delicto expurguem;
Se lei cumprem superna e a voz dos manes,
Como inda ha quem transverta as ordens tuas
35E reforme o destino? As naus combustas
De Eryx na praia, o rei das tempestades
Cabe allegar na Eolia concitado,
E Iris do céo baixando? Ora até move
(Restava este recurso) o mesmo inferno,
40De chofre acima remettendo Alecto,
Que a debacchar a Italia contamina.
Já de imperios prescindo: isso esperámos
Em melhor quadra; vença quem te agrade.
Se, dura aos nossos, tua espôsa nega
45Na terra um canto, pelo exicio de Ilio
Fumante obsecro, do conflicto o neto
Incólume apartar me outorga, ó padre.
Bote-se Enéas por ignotos mares
Á mercê da fortuna: eu valha ao menos
50De impio combate a subtrahir Ascanio.
Tenho Idalio, Amathunta e a celsa Paphos,
Mais Cythera, onde obscuro imbelle viva:
Deixa que Tyro atroz a Ausonia opprima;
Elle nada obsta ao punico dominio.
55Que monta que, evadido á peste argiva,
Das chammas se livrasse? que, em demanda
Da recidiva Pérgamo, os perigos
De immenso mundo e pélago exhaurisse?
Porque sob patrias cinzas não ficaram?
60Miseros, peço, os rende ao Xantho e Símois;
Tornem, padre, a versar de Troia os casos.»
Juno régia, o rancor não mais contendo:
«Pois a romper e a divulgar me obrigas
A silente ima dôr? Que deus ou que homem
65Fez que a Latino o surrateiro Enéas