Página:Esaú e Jacob.djvu/308

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— Já tem bilhete de passagem?

— Comprarei no dia do embarque.

— Talvez não ache. Há grande concorrência para aquelas paragens; melhor é comprar antes, e, se quer, eu me encarrego disso; comprarei outro para mim, e iremos juntos. A travessia, quando não há conhecidos, deve ser fastidiosa; às vezes, os próprios conhecidos aborrecem, como sucede neste mundo. As saudades da vida é que são agradáveis. A gente de bordo é vulgar, mas o comandante impõe confiança. Não abre a boca, dá as suas ordens por gestos, e não consta que haja naufragado.

— O senhor está caçoando comigo; eu creio até que estou com febre.

— Deixe ver.

Flora estendeu-lhe o pulso; ele, com ar profundo:

— Está; febre de quarenta e sete graus, a mão está ardendo, mas isto mesmo prova que não é nada, porque aquelas viagens fazem-se com as mãos frias. Há de ser constipação, fale a sua mãe.

— Mamãe não cura.

— Pode curar, há remédios caseiros; em todo caso, peça-lhe, e ela pode mandar chamar um médico.

— Médico dá tisanas, e eu não gosto de tisanas.

— Nem eu, mas tolero-as. Por que não experimenta a homeopatia, que não tem gosto, como a alopatia?

— Qual é a que lhe parece melhor?

— A melhor? Só Deus é grande.

Flora sorriu, de um sorriso pálido, e o conselheiro percebeu algo que não era tristeza de passagem ou de criança. Novamente lhe falou de Petrópolis, mas não insistiu. Petrópolis era a agravação do momento atual.

— Petrópolis