Página:Esaú e Jacob.djvu/352

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execução. Não é esta a república dos meus sonhos, dizia ele; e dispunha-se a reformá-la em três tempos, com a fina-flor das instituições humanas, não presentes nem passadas, mas futuras. Quando falava delas, via-se-lhe a convicção nos lábios e nos olhos, estes alongados, como alma de profeta. Era outro ensejo de se não entenderem os dois. D. Cláudia tinha que era cálculo de ambos para se não juntarem nunca; — opinião que Natividade aceitaria, finalmente, senão fora a de Aires.

Também este notara a mudança, e estava prestes a aceitar a explicação, por aquela razão de comodidade que achava em concordar com as opiniões alheias; não se cansava nem aborrecia. Tanto melhor, se o acordo se fazia com um simples gesto. Desta vez, porém, valeu a pessoa.

— Não, baronesa, disse ele, não creia em propósitos.

— Mas que pode ser então?

Aires gastou algum tempo na escolha das palavras, a fim de lhe não saírem pedantescas nem insignificantes; queria dizer o que pensava. Às vezes, falar não custa menos que pensar. Ao fim de três minutos, segredou a Natividade:

— A razão parece-me ser que o espírito de inquietação reside em Paulo, e o de conservação em Pedro. Um já se contenta do que está, outro acha que é pouco e pouquíssimo, e quisera ir ao ponto a que não foram homens. Em suma, não lhes importam formas de governo, contanto que a sociedade fique firme ou se atire para diante. Se não concorda comigo, concorde com D. Cláudia.

Aires não tinha aquele triste pecado dos opiniáticos; não lhe importava ser ou não aceito. Não é a