vocês com um sujeito mau que morreu há tantos anos?
— É o que eu digo, mas ele não se emenda.
— Há de emendar-se; os estudos fazem esquecer criancices. Você também quando for médico tem muito que brigar com as moléstias e a morte; é melhor que andar dando pancada em seu irmão... Que é lá isso? Não quero arremessos, Pedro! Sossegue, ouça-me.
— Mamãe é sempre contra mim.
— Não sou contra nenhum, sou por ambos, ambos são meus filhos. E demais gêmeos. Anda cá, Pedro. Não penses que eu desaprovo as tuas opiniões políticas. Até gosto; são as minhas, são as nossas. Paulo há de tê-las também. Na idade dele aceita-se quanta tolice há, mas o tempo corrige. Olha, Pedro, a minha esperança é que vocês sejam grandes homens, mas com a condição de serem também grandes amigos.
— Estou pronto a ser grande homem, assentiu Pedro com ingenuidade, quase com resignação.
— E grande amigo também.
— Se ele for, serei.
— Grandes homens! exclamou Natividade, dando-lhe dois abraços, um para ele, outro para o irmão quando viesse.
Mas Paulo veio logo, e recebeu o abraço inteiro e de verdade. Vinha também queixar-se, e sempre resmungou alguma coisa, mas a mãe não quis ouvi-lo, e falou outra vez a linguagem das grandezas. Paulo consentiu também em ser grande.
— Você será médico, disse Natividade a Pedro, e você advogado. Quero ver quem faz as melhores curas, e ganha as piores demandas.