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aparvalhadas do publico, fica então a dansar allucinadamente. Nas suas pernas magras, espectraes, de esqueleto ironicamente esquecido pela cóvsi, dir-se-ha que lhe puzeram azougue e lhe puzeram também rodizios nos pés,

E ella fica então a rodar, a rodar, macabra, doida, n′uma febre, n′um delirio, como se fosse esse todo o extremo esforço das suas faculdades de dançarina. E ella roda, roda, vae rodando, em vertigens e vertigens, em gyros exquisitos, fazendo fluctuar os dourados farrapos da veste, dentre uma saraivada «-rossa de risos e acclamações, gosando trium])hos na miséria daquillo tudo, como a rainha da lama humana. E a grotesca figura roda, mascarada de miimia verde — allucinação que ondula, desvairamento que serpenteia — a exemplo de uma cousa amorpha, de um bicho inconcebivelmente estranho que se tivesse ao mesmo tempo absurdamente tomado de uma epilepsia nervosa e da dansa de S. Guido...

De vez em quando piparoteiam-lhe a pansa, as nadeíías molles e ella ent&o, iaiiobil animal aguilhoado por essa baixa caricia, saracoteia mais, espaneja-se toda no seu lodo como n′′um leito de volúpia,

Ah! d′aquella momice cynica, d′aquella desordenada bebedeira dinstinctos erguiam-se,