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como as estrellas no céo, apesar das tentações malignas, das apostasias do Bem, dos sacrilégios do Amor, Olhos onde havia bizarro e scintillante alvorôço alegre de mocidade, qualquer cousa de farfalhante rufiar d'azas por entre festões de flôres, sonoridades de crystaes e luzes.

Como, pois, aquella fórma de tanta suavidade e de tanto encanto evaporou-se logo?! Como, pois, aquelle ser, tão occulto da terra, tão obscuro, tão humilde, zêro inutil no grande algarismo do Mundo, mas tão simples e tão bom, assim desappareceu um dia, arrebatado n'um vento macabro, convulsivo, de morte?! Como as essências desconhecidas, os philtros exquesitos d'aquella triste dor nunca fôram descobertos? Como os abafados soluços d'aquella pobre Magoa nunca foram ouvidos?!

Pois que Deus é esse que faz vigorar nos centros do rumor e da luz, como amplas e verdejantes arvores célebres, existencias mediocres que pompeiam e fazem resoar com vaidoso estrondo a sua prepotencia vasia, emquanto anniquila, abate existencias onde ha um sonho bom de amor e de carinho! Pois que Deus é esse! Que divina misericórdia e que clemencia iguaes elle, cégo, tão cégo, semeia na terra, que todos, bons ou máos, cólhem o mesmo immutavel quinhão?!