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Ella era, com effeito, a harpa delicada onde eu, adolescente e sem saber como, tirava as harmonias, os sentimentos rhythmicos que guardei commigo e que agora aqui vou aos poucos diffundindo.

Ella era a harpa em cujas cordas sensibilisadas eu sempre advinhei os accórdes mysticos e fugitivos de um segredo amargo.

Aquella candidez de virgem tinha luto, aquella madrugada de mulher tinha insomnias.

Um meio dia de sol, onde, por um ethéreo capricho phenomenal dos astros, se entrecruzasse, transfiguradamente, o crepusculo.

Desde que Anna morreu começou a cahir na minh'alma uma cinza fria de desolação, uma sombra dolente.

Ella foi quem primeiro me ergueo a fronte e as mãos para os sublimes Sacrificios. Foi ella quem primeiro me ungio com os seus cuidados cordeaes. Foi ella quem me deo a commungar a hostia da Vida com as suas mãos de amor. Ella arejou a minh'alma, deo sol ao meu Desconhecido, deu luar de paz ao meu Sonho.

Vibrações virgens de harpa inviolada para o mundo as emoções da alma de Anna faziam meditar no mesmo vago e no mesmo encanto longinquo de regiões ainda não descobertas.