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A alma do Idiota alvorava n′uma aurora negra de lagrimas, abria n′uma grande flor gla* ciai e lacerante de soluços.

Eram soluços e grunhidos, verdadeiramente grunhidos animaes e soluços humanos, que abalariam as pedras, se as pedras não fossem mortas, que abalariam os Santos, se os Santos não fossem pedra.

Cahido de bruços, babando, como mordido por serpentes, na impotência da Dor que encarcera e despedaça a alma, o Idiota tinha viva, de pé, em flor e em belleza diante da sua angustia, como um tentador espectro divino, a florescente apparição que elle vira alli mesmo no templo.

Passava-lhe agora pela mente todo esse clarão mortificante de gozo, todo esse tantalismo de mulher que sorri uma vez, brilha e para sempre desapparéce. E elle nunca mais a veria, nunca mais, nunca mais, nunca mais!

Ah! que inferno nunca sonhado tinha posto ante os seus olhos inúteis e despresados essa luz consoladora, essa luz que elle jamais sentira, tão bella e tão funesta, apparecendo na serenidade dessa manhã dentro do templo illuminado? Que força desconhecida arrancara dos limbos do mysterio aquella formosura ondulante como um verme, perigosa como um veneno, para deixal-o

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