Página:Evocações.djvu/51

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uno, olfactando tudo, tocando mentalmente tudo para ver se encontraria nas cousas o odor do Desconhecido, a essência singular, a emanação casta e original que tanto o inquietava e attrahia.

A idéa da Morte, com os seus terrores occultos, obscuros e surdos imponderados, com os seus enregelamentos supremos, lançava-lhe sempre á espinha um frio de angustia, soprava-lhe no cérebro trêdo tufão tenebroso, esmagando-o e deleitando-o ao mesmo tempo, n′um deleite luxurioso e fatal, que o envenenava como de ódio terrível, sanguinolento.

Vinha de um fundo mysterioso, de recônditas raizes de soffrimento, de anciãs e desesperos concentrados, esse vendaval ululante de sensações imprevistas que o abalavam até ao intimo do seu ser, perante a idéa vulcanisadôra da Morte, da livida, da rigida, da impenetrável Morte...

Era o estremecimento latente, lancinante, de um terror absurdo, que o esmagava, que o dilacerava, como se já andasse de rastros, agrilhoada ás sombras e á gelidez tumulares, toda a sua convulsa existência de extasiado olympico, de absorto egrégio nas luminosas volúpias da Arte.

E quando lhe soava nos nervos a hora alta da febre da grande allucinação para a perpetuidade do nome no espirito das Gerações que