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— Basta que abandones esse viver errante, esses habitos selvagens e que te civilizes como eu.

— Explica-me lá isso por miudo, pediu o lobo, com o brilho da esperança nos olhos.

— E' facil. Vens commigo; apresento-te ao meu senhor ; elle, está claro, sympathiza-se comtigo e te dá o mesmo tratamento que a mim : bons ossos de gallinha, succulentos restos de carne, um canil com palha macia... Além disso, agrados, mimos a toda hora, palmadas amigas, um nome.

Ficou o lobo satisfeitissimo d'aquelle programma e respondeu:

— Não ha duvida, irei comtigo. Quem não deixará uma vida miseravel como a minha por uma vida de regalos como a tua?

— Em troca disso, continuou o cão, guardarás o terreiro, não deixando entrar ladrões nem vagabundos. Agradarás ao senhor, e a sua familia, sacudindo a cauda e lambendo a mão a todos.

— Pois acceito, resolveu o lobo; e emparelhando-se com o cachorro partiu a caminho da casa.

Em meio da jornada, porém, notou que o seu amigo estava de colleira.

— Que diabo á isso que tens no pescoço?

— E' a coleira.

— E para que serve?

— Para me prender á corrente.

— Então não és livre, não vaes para onde queres, como eu?

— Nem sempre. Passo ás vezes varios dias preso, conforme