Já houve, entretanto, uma formiga má que não soube comprehender a cigarra e friamente a repelliu de sua porta.
Foi isso na Europa, em pleno inverno, quando a neve recobria o mundo com o seu cruel manto de gelo.
A cigarra, como de costume, cantara sem parar o estio inteiro, e o inverno viera pilhal-a desprovida de tudo, sem casa onde abrigar-se, nem folhinhas que comesse.
Desesperada, bateu á porta da formiga e pediu — emprestado, notem! — uns miseraveis restos de comida. Pagaria. Pagaria com juros altos, essa comida de emprestimo, logo que o tempo lh'o permittisse.
Mas a formiga era uma usuraria sem entranhas. Além disso, invejosa. Como não soubesse cantar tinha odio de morte á cigarra por vel-a querida de todos os seres.
— Que fazia você, durante o bom tempo?