Página:Flores do Mal (1924).pdf/150

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E essa voz, que em mim se infiltra
E corre todo o meu peito,
É p’ra mim um amavio,
Como um soneto bem feito.

Adormece a dor mais funda,
Todos os bens sintetiza;
Para dizer grandes cousas,
De palavras não precisa.

Não existe, certamente.
Arco egual, com tanto geito
P’ra fazer vibrar as cordas
Do violino do meu peito,

Como a tua voz, meu gato
Estranho e misterioso,
Que em tudo lembras um anjo,
Subtil e harmonioso!

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Seu lindo pelo trigueiro
Tem um olor delicado;
Uma vez, só de afagá-lo,
Fiquei logo perfumado.