Juizo crítico
O que mais me surprehende n’este livro – além do seu valor nimiamente litterario; a que, mais adeante, algumas palavras consagrarei — é a data do seu apparecimento.
Porque, para que, em 1909, uma interpretação em versos portuguezes das poesias das Flores do Mal?
Carlos Baudelaire não está de nós tão affastado que possamos collocar o seu nome n’uma anthologia que convenha memorar como lição ou modelo a seguir, nem tão proximo que os seus versos representem uma novidade para os gulosos das boas-lettras, alheios ao que se passa e á lingua que se fala da banda de la dos Pyrineos. Bem pelo contrário quanto a este ultimo ponto! Haja vista o espectaculo a que o paiz assistiu e Lisboa representou n’estes ultimos tempos. O poeta Jean Richepin falou a um auditorio numeroso e foi grandemente applaudido, em duas conferencias, por um publico a que, com justiça ou não, se conferem os titulos de elegante e intellectual, no preciso momento em que o deputado belga Léon Fournemont, no salão d’uma collectividade democratica, recebia não menos calo. rosas marcas de sympathia e comprehensão, que lhe offereciam uma legião de trabalhadores. a quem, ao que parece, não fizeram falta, na conjunctura, os mysterios grammati-