Queimava a luz do sol aquela massa imunda,
Fazendo-a transformar
Em novos materiaes, que a Natura fecunda
Consegue aproveitar.
Fitava o claro ceu a carcassa indecente,
Como a um vergel em maio,
E o fedor era tal que eu vi-te de repente
Em risco de um desmaio.
As moscas, a zumbir, cobriam o asqueroso
Corpo em putrefacção,
E os vermes, em tropel, num líquido viscoso,
Formavam legião.
Era um longo cortejo, uma procissão rara
De vermes corrosivos;
Dir-se-ia que o animal morto ressuscitara
Em milhões de ser’s vivos.
E d’essa multidão elevava-se um brado,
Um ruído fagueiro,
Como o som que produz o trigo joeirado
Na rede d’um peneiro.
Á luz do nosso olhar, tudo se transformava
N’um sonho de tremer...
Visão cheia de horror que na mente se grava
E não torna a esquecer.