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queria equipar seus leitores com o conhecimento para recusar essas profecias anacrônicas. Da próxima vez que alguém disser que a utopia pós-industrial está logo ali ao lado, você pode responder que essa previsão não é nada mais que um mcluhanismo reciclado. A Guerra Fria terminou — e os futuros imaginários fabricados nos EUA também.

Assim como pensava meu entrevistador em Pipa, eu não precisaria visitar o Brasil ou conhecer qualquer pessoa do país para chegar a esta conclusão. Poucos dos autores que preenchem as prateleiras de meus estudos com pensamentos sobre computação e Internet estão interessados no impacto das tecnologias de informação nos países em desenvolvimento. Assim como eles, eu poderia ter dito tudo que quisesse neste livro sem fazer nenhuma menção à maioria da humanidade. Computadores e Internet são do Norte, então porque se preocupar com o Sul? Felizmente, meus companheiros e companheiras brasileiras me impediram de sucumbir a essa comodista tentação. Suas influências adicionaram profundidade à análise de Futuros imaginários. Acima de tudo, eu percebi o quão diferente do Norte o mundo parece, visto do Sul. Não são apenas as constelações no céu que estão reviradas, mas também a memória geopolítica. Quando visitei Brasília em 2004, eu vi com meus próprios olhos os edifícios modernistas de uma sociedade melhor que era negada ao próprio país. Como o livro enfatiza, os líderes intelectuais do império estadunidense eram a torcida animada do golpe militar de 1964 que derrubou o governo democraticamente eleito de João Goulart. As maravilhas do estilo estadunidense de futuro de alta tecnologia justificavam os horrores da ditadura imposta ao Brasil na época. Para nós, que vivemos na Europa Ocidental, é sempre um choque encontrar a desigualdade e a violência que resultaram desse caminho autoritário em direção ao desenvolvimento. Como nossa experiência com a