Estados Unidos, também experimentei os extremos de seu clima continental e os prazeres da sua cultura popular. E o melhor de tudo: lá senti minha primeira paixão, ao segurar as mãos de Donna no parquinho da escola. Comparados a esses eventos seminais da minha vida, os detalhes da nossa visita de família à Feira Mundial de Nova Iorque foram facilmente esquecidos. Ao olhar a capa deste livro, não vejo somente uma imagem da minha presença física em um lugar específico e em um momento particular. O que me intriga é como essa tomada instantânea evoca como é ser uma pequena criança que mora em um país estrangeiro. “Fotografias de família devem mostrar nem tanto que estivemos uma vez ali, mas como uma vez fomos...”[3]
Enquanto escrevia este livro, compreendi que aquele período feliz da minha infância nos Estados Unidos teve um lado mais sinistro que — como um garoto de sete anos de idade — não percebi naquele momento. Na época em que a família Barbrook foi à Feira Mundial de Nova Iorque, em junho de 1964, meu pai estava a caminho de Boston para começar uma residência de doze meses no departamento de ciências políticas do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), em um esquema de intercâmbio criado pelos serviços de inteligência dos EUA.[4] Como membro de agremiação estudantil no início dos anos 1950, ele havia se envolvido com uma facção pró-estadunidense do Partido Trabalhista Britânico. Em meados dos anos 1960, meu pai tornara-se um acadêmico especializado nas políticas de sua pátria ideológica: os Estados Unidos. Ao fazer a pesquisa para este livro, reconheci na minha infância alguns personagens dúbios — como Walt Rostow — e organizações desonestas — como o Congresso pela Liberdade Cultural — que desempenham importantes papéis nos capítulos seguintes. Meu pai os conhecia e apoiou suas causas. Encontrar uma fotografia da família Barbrook em visita à Feira Mundial de Nova Iorque não parece ter sido uma grata coincidência. Dados os compromissos geopolíticos de meu pai, era quase inevitável que isso acontecesse.