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O FUTURO É O QUE SEMPRE FOI

eles não interrogaram a validade das previsões da década anterior, a volta ao tempo cíclico foi fundada sobre suas certezas a respeito da direção do progresso linear. O presente perpétuo foi justificado pelo futuro imutável.

Ao contrário de sua própria imagem enquanto nova teoria da era da informação, o pós-modernismo foi ele mesmo um sintoma ideológico da hegemonia de profecias da alta tecnologia. De forma mais reveladora, seu conceito de tempo cíclico foi derivado da repetição continua do mesmo modelo de utopia da ficção científica. Em oposição, a premissa deste livro é perguntar por que os futuros imaginários do passado sobrevivem no presente. Apesar de sua proeminência cultural, os fantasmas semióticos das máquinas cônscias e das economias pós-industriais são vulneráveis ao exorcismo teórico. Longe de significarem livre circulação, essas previsões estão profundamente arraigadas no tempo e espaço. Como este livro mostrará, não é acidental que suas origens intelectuais possam ser traçadas desde os Estados Unidos da Guerra Fria. Ao peneirar os dados da história desses dois futuros imaginários, pode-se revelar a fundação social dessas ideologias tecnológicas. Não nos surpreende que os pioneiros contemporâneos da inteligência artificial e da sociedade da informação raramente reconheçam a antiguidade de suas previsões. Eles querem mover-se adiante ao invés de olhar para trás. O tempo é fluido, nunca cristalizado.

Este livro, ao contrário, insiste que os futuros imaginários da inteligência artificial e da sociedade da informação possuem uma longa história. Já se vão mais de 40 anos desde que os sonhos das máquinas pensantes e a cornucópia pós-industrial atraíram a imaginação do público estadunidense na Feira Mundial de Nova Iorque. Examinar as pioneiras tentativas de propagação dessas profecias é um requisito para entender suas repetições contemporâneas. O tempo cristalizado ilumina o tempo fluido. Olhar para trás, ao invés de um desvio, é

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