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O SÉCULO ESTADUNIDENSE

Unidos: foguetes espaciais, modelos de televisor em cores, videofones, reatores nucleares e, acima de tudo, os computadores mainframes. Essa identificação das novas tecnologias com o futuro imaginário foi o fio condutor de exposições internacionais durante mais de um século. Em 1851, regada com a prosperidade e o poder que fluía da posse da “oficina do mundo”, a elite britânica organizou a celebração inaugural das maravilhas do progresso econômico: a Grande Exposição dos Trabalhos de Indústria de Todas as Nações. O Palácio de Cristal — um edifício futurista de ferro e vidro — fora erguido em um parque central de Londres. Em seu interior, os visitantes eram conduzidos a uma fascinante exposição de produtos inéditos das fábricas e importações exóticas das colônias. Pela primeira vez, os ícones da modernidade industrial foram as atrações principais em um grande festival internacional.

Ironicamente, em sua proposta original, os organizadores identificaram como objetivo primário da Grande Exposição a promoção do falso estilo medieval. No projeto do Palácio de Cristal, a melhor posição no centro da entrada principal foi alocada à exposição do Renascimento Gótico.[30] Ao ver tantos exemplos desse sublime projeto na Grande Exposição, os consumidores se tornariam mais perspicazes em suas compras e os negócios se inspirariam a criar melhores produtos. Ao ganharem uma maquiagem retrógrada, as mercadorias industriais se tornavam socialmente aceitáveis. O novo só era belo ao imitar o antigo.[31] Na Inglaterra vitoriana, o renascimento gótico era muito mais do que somente um movimento de arte. A elite britânica teve imenso prazer ao disfarçar sua república comercial de alta tecnologia em uma romântica monarquia medieval. Mesmo na mais moderna nação do mundo, a última inovação industrial era mascarada como costume feudal arcaico: “a tradição inventada”.[32] “A essência [da Inglaterra] é forte como a dureza da simplicidade moderna; seu exterior é augusto como a grandiosidade gótica de uma era mais imponente.”[33]

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