Saltar para o conteúdo

Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/102

Wikisource, a biblioteca livre
100
GRACILIANO RAMOS

permaneceu calada, mas não parecia surprehendida.

— Já se vê que não sou o homem ideal que a senhora tem na cabeça.

Afastou a phrase com a mão fina, de dedos compridos:

— Nada disso. O que ha é que não nos conhecemos.

— Ora essa! Não lhe tenho contado pedaços da minha vida? O que não contei vale pouco. A senhora, pelo que mostra e pelas informações que peguei, é sisuda, economica, sabe onde tem as ventas e pode dar uma boa mãe de familia.

Magdalena foi á janella e esteve algum tempo debruçada, olhando a rua. Quando se voltou, eu passeava pela sala, enchendo o cachimbo.

— Deve haver muitas differenças entre nós.

— Differenças? E então? Se não houvesse differenças, nós seriamos uma pessoa só. Deve haver muitas. Com licença, vou accender o cachimbo. A senhora aprendeu varias embrulhadas na escola, eu aprendi outras quebrando a cabeça por este mundo. Tenho quarenta e cinco annos. A senhora tem uns vinte.

— Não, vinte e sete.

— Vinte e sete? Ninguem lhe dá mais de vinte. Pois está ahi. Já nos approximamos. Com um bocado de boa vontade, em uma semana estamos na igreja.

— O seu offerecimento é vantajoso para mim,