— Julguei que não fosse segredo. Todo o mundo sabe.
— Idiota.
E voltei a sentar-me. Acanhado, as orelhas num fogareo, agarrei-me ao hospital de Nossa Senhora da Conceição e ao Gremio Literario e Recreativo, que levava uma existencia precaria, com as estantes cheias de traças e abrindo-se uma vez por anno para a posse da directoria.
— Que utilidade tem isso?
Azevedo Gondim sentou-se, pouco a pouco serenou:
— É uma sociedade que presta bons serviços, seu Paulo.
— Lorota! O hospital, sim senhor. Mas bibliotheca num lugar como este! Para que? Para o Nogueira ler um romance de mez em mez. Uma literatura desgraçada...
Azevedo Gondim, aferrando-se a uma idéa, gira em redor della, como peru:
— A instrucção é indispensavel, a instrucção é uma chave, a senhora não concorda, d. Magdalena?
— Quem se habitua aos livros...
— É não habituar-se, interrompi. E não confundam instrucção com leitura de papel impresso.
— Dá no mesmo, disse Gondim.
— Qual nada!
— E como é que se consegue instrucção se não for nos livros?