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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/118

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GRACILIANO RAMOS

dinheiro a mestre Caetano. Isto me irrita, mas a irritação é differente das outras, é uma irritação antiga, que me deixa inteiramente calmo. Que loucura estar uma pessoa ao mesmo tempo zangada e tranquilla! Mas estou assim. Irritado contra quem? Contra mestre Caetano. Não obstante elle ter morrido, acho bom que vá trabalhar. Mandrião!

A toalha reapparece, mas não sei se é esta toalha sobre que tenho as mãos cruzadas ou a que estava aqui ha cinco annos.

Rumor do vento, dos sapos, dos grillos. A porta do escriptorio abre-se de manso, os passos de seu Ribeiro afastam-se. Uma coruja pia na torre da igreja. Terá realmente piado a coruja? Será a mesma que piava ha dois annos? Talvez seja até o mesmo pio daquelle tempo.

Agora seu Ribeiro está conversando com dona Gloria no salão. Esqueço que elles me deixaram e que esta casa está quasi deserta.

— Casimiro!

Penso que chamei Casimiro Lopes. A cabeça delle, com o chapeo de couro de sertanejo, assoma de vez em quando á janella, mas ignoro se a visão que me dá é actual ou remota.

Agitam-se em mim sentimentos inconciliaveis: encolerizo-me e enterneço-me; bato na mesa e tenho vontade de chorar.

Apparentemente estou socegado: as mãos contiinuam cruzadas sobre a toalha e os dedos parecem