Saltar para o conteúdo

Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/124

Wikisource, a biblioteca livre
122
GRACILIANO RAMOS

aquellas complicações ao governador quando elle apparecesse aqui. Em todo o caso era despesa superflua.

Assignei a duplicata, puz o chapeo e sahi. Ao passar pelo estabulo, notei que os animaes não tinham ração.

— Isto vai mal.

E gritei:

— Marciano!

Gritei em vão. Desci a ladeira, com raiva. Lá em baixo, á porta da escola, descobri Marciano escanchado num tamborete, taramelando com o Padilha.

— Já para as suas obrigações, safado.

— Acabei o serviço, seu Paulo, gaguejou Marciano perfilando-se.

— Acabou nada!

— Acabei, senhor sim. Juro por esta luz que nos alumia.

— Mentiroso. Os animaes estão morrendo de fome, roendo a madeira.

Marciano teve um rompante:

— Ainda agorinha os cochos estavam cheios. Nunca vi gado comer tanto. E ninguem aguenta mais viver nesta terra. Não se descança.

Era verdade, mas nenhum morador me havia ainda falado de semelhante modo.

— Você está se fazendo besta, seu corno?

Mandei-lhe o braço ao pé do ouvido e derrubei-o. Levantou-se zonzo, bambeando, recebeu mais